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Só o amor não basta

Só o amor não basta | postado em 14/10/2019

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Gleisson Klebert de Melo

  • Palestrante, Coach, Consultor e Trainer;
  • Graduado em Administração de Empresas e Filosofia (Unifran e PUC-Minas) com MBA em Gestão de Pessoas (Universidade Anhanguera);
  • Formação em Master Coaching Sistêmico e Master Practitioner em Programação Neurolinguística;
  • Consultor de empresas em gestão de pessoas, relacionamentos e comunicação.

SÓ O AMOR NÃO BASTA

Somos seres pensantes, isso nos difere de todos os outros animais. Somos um caniço segundo Blazer Pascal¹ . “O caniço mais fraco da natureza, dizia ele, mas um caniço pensante.” Mas não é somente a possibilidade de pensar de forma racional, ter inteligência cognitiva que nos faz diferentes dos demais seres da natureza conhecida. Mas também, nossas emoções e como as experimentamos e vivenciamos.

As emoções são marcantes em nossa experiência humana. Não há, sob o ponto de vista científico, um número exato que identifique a influência dela sob nossos sucessos e insucessos se comparado a inteligência cognitiva ou simplesmente à razão. Mas se observarmos os estudos, as pesquisas e nossa própria experiência de vida é notável a influência, para o bem ou para o mal, das emoções sobre nossa vida prática cotidiana.

Elas estão presentes em todos os momentos e situações e são verdadeiramente influentes sobre nossos comportamentos. Diante de uma situação inusitada, adversa, nossas emoções terminam controlando nossa tomada de decisão e influenciando nossos comportamentos e a qualidade de nossas relações.

Mas afinal, o que são emoções? Segundo Pedro Calabrez², “as emoções são programas de ações coordenadas pelo cérebro que gerenciam alterações em todo o corpo. Essas alterações são ações no sentido amplo da palavra. Ações microscópicas que liberam hormônios no sangue, secreção de neurotransmissores nas sinapses. E ações ainda mais complexas como o comportamento, p. ex. atacar ou correr.”

As emoções são em resumo um jeito muito eficiente da natureza para levar o indivíduo a agir sem perda de tempo. Emoção tem tudo a ver com ação. Em gerar comportamentos biologicamente vantajosos frente uma necessidade imediata. É importante notar que a emoção é automática. Isso quer dizer que não conseguimos controla-la com nossa vontade. Elas estão aí para garantir a nossa sobrevivência. A eficácia da emoção está em ser automática, fora do nosso controle.

Emoções estão sempre associadas a estímulos. Que podem ser externos (pessoas, alimentos, perigos) ou conteúdos mentais (pensamentos, ideias, p. ex.). As emoções operam numa escala que vai de positivo a negativo, a escala de valência. Emoções de valência positiva são aquelas que nos inclinam a comportamentos de aproximação, quando algo nos alegra, tendemos a nos aproximar desse algo, dessa coisa. Já as emoções de valência negativa, são aquelas que nos inclinam a comportamentos de afastamento. Quando nós temos medo de algo, por exemplo, nós tendemos a comportamentos de afastamento como atacar ou fugir.

As emoções são rudimentares, fisiológicas e automáticas. Elas influenciam o funcionamento de todo nosso organismo liberando hormônios e neurotransmissores que alteraram nosso metabolismo e elevam a potencialidade de todos nossos sentidos. Nos colocando em alerta ou contagiando positivamente todo nosso ser. E todas, como vimos, nos levam a uma ação imediata.

No campo das relações humanas encontramos as mais diversas experiências que estimulam a regência cerebral para as emoções acontecerem. Seja nas horas de ternura e de alegria, seja nas experiências emocionais de medo, raiva ou tristeza. E em todas elas uma gama de hormônios é liberado na corrente sanguínea o que colabora para as mais diversas alterações fisiológicas como alteração das batidas do coração, pressão arterial, dilatação da pupila, sudorese, palidez, frio na barriga, etc.

Nas emoções de valência negativa, que nos levam a movimentos de distanciamento como a raiva, tristeza e o medo, nosso organismo é preparado para o comportamento de luta ou fuga. Na raiva por exemplo, independente de nossa vontade, pois assim são as emoções, elas não são volitivas, nosso fluxo sanguíneo se concentra mais nos grandes músculos e nos membros, ampliam nossa força e nos leva a movimentos violentos de ataque e defesa. Na tristeza somos levados a cessão de movimentos, ao recolhimento para avaliarmos as atuais condições diante de uma perda e criar um novo plano para seguir a diante.

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Toda essa orquestra fisiológica, acontece em nosso organismo a partir de um estímulo. E nas relações humanas o que não falta são estímulos que captadas por nossos sentidos reagirá neurologicamente dando início a emoção que seja correlacionada com o estímulo em questão. A primeira experiência emocional de nossas relações mais próximas, porque não mais íntimas, são relacionadas ao afeto. No afeto uma carga de ocitocina é excretada na corrente sanguínea, gerando movimentos de aproximação, afeto e amor.

Nas interações sociais, nossa educação e cultura nos faz, ao menos como via de regra, polidos e educados. Muitas vezes abafamos nossas emoções e nossas reais vontades para não decepcionar alguém querido, com um não seco por exemplo. Para não exacerbar uma eminente briga ou desavença. Para alegrarmos alguém triste. Ou simplesmente para escapar de uma correção ou situação vexatória mentimos verbalmente, embora nosso corpo (por suas expressões e fisiologia) não minta.

A forma como expressamos sentimentos constitui, segundo Goleman (2018), uma competência social muito importante. Paul  Ekman, citado por Goleman (2018) , utiliza o termo regras de exibição para designar o  consenso social acerca de quais sentimentos — e em que momento — podem ser  demonstrados  de  forma  apropriada. Na mais tenra idade, aprendemos essas regras de exibição, através de instruções específicas. Quando por exemplo devemos ficar felizes e demonstrar isso, com um presente de aniversário que vem em forma de um par de meias e não de um brinquedo, que costuma ser o mais desejado. Embora agradeça e expresse alegria verbalmente, o tom de voz e as expressões faciais de desagrado são facilmente percebíveis.

Nas relações íntimas, não somente românticas, e familiares o que acontece é que a proximidade vai esfacelando nossas máscaras sociais. E com o tempo as emoções vão se mostrando, principalmente quando vem numa potência que incomoda e assusta. O encanto vai dando lugar a emoções e sentimentos mais brutos. O que antes unia, agora tende a desunir, a distanciar. A alegria e o afeto que antes aproximava e gerava intimidade agora são substituídas pela raiva, o medo e a tristeza que por sua valência, distancia as pessoas.

Claro que isso não é uma regra, mas é muito comum o amor que uniu um casal por exemplo se reverter em raiva, mágoas, medo, decepções. Ou no âmbito de irmãos um desentendimento se tornar uma mágoa para muitos anos, senão a vida toda. Se olharmos no campo profissional, no trabalho em equipe, quantas vezes a competitividade desmedida, a fofoca, o medo, a ansiedade entre outras coisas, geram arqui-inimizades e sabotagens.

Não compreender a força do território emocional na nossa e na vida das outras pessoas, não nos permite compreender e saber lidar com elas. Os estados emocionais determinam os comportamentos e os comportamentos determinam a qualidade dos relacionamentos. Pois o comportamento é a ponta do iceberg. É o visível, o que se pode sentir e ser captado através dos sentidos e enviado ao cérebro. É o que nos é apresentado. E os sentidos as vezes enganam e nos geram emoções que não são condizentes com a realidade em questão.

Para melhorar a qualidade de nossos relacionamentos não basta o sentimento do amor, essa força que nos uniu e nos mantém. A emoção agradável que nos dá a sensação de que o relacionamento vale a pena. Que “apesar de ser nervoso e estourado ele gosta e se preocupa comigo.” Não basta o bem querer. É preciso estratégia, inteligência e ciência de si e do outro. Exercer influência saudável e ecológica sobre a emoção do outro é a essência na arte de relacionar-se. É preciso empatia, compreender e se colocar no lugar do outro. Analisando o que pode ser feito, se é que deve ser feito algo. Há momentos que o silêncio e o deixar quieto é o melhor remédio ou antídoto.

Eu devo me conhecer, compreender como se dão as emoções em mim. Quais são meus padrões de comportamento e quais emoções estão por trás deles. Entender quais são meus gatilhos mentais, ou seja, quais são os estímulos que me desequilibram emocionalmente. E descoberto encontrar estratégias para lidar com as minhas emoções, principalmente quando estão no nível que tendem a fugir do meu auto domínio. Antes que haja a “erupção do meu vulcão particular interno.”

E passa pela qualidade dos relacionamentos, a compreensão também do mundo interno do outro. Compreender o estado emocional pela leitura não verbal do outro. Mas para entrar em sintonia com o outro, é preciso ter calma. Controlar as emoções de outra pessoa, como afirma Golemam (2018), a bela arte de relacionar-se com os outros, exige amadurecimento de duas outras aptidões: o autocontrole e a empatia. De posse delas, amadurecem-se as aptidões pessoais para o relacionamento. Em contrapartida, as deficiências dessas aptidões conduzem a imbecialidade, incapacidade e seus respectivos desastres relacionais.

“Na verdade, afirma Goleman (2018), é precisamente  a  falta  dessas  aptidões que pode fazer com que, mesmo aqueles que são considerados brilhantes do ponto de vista intelectual, naufraguem em seus relacionamentos, pareçam arrogantes, nocivos ou  insensíveis. Essas aptidões sociais nos permitem moldar um relacionamento, mobilizar e inspirar os outros, vicejar em relações íntimas, convencer e influenciar, deixar os outros à vontade.

Só o amor não basta, quando ele é apenas um sentimento agradável, um expressão de gratidão isolada, que leva a aproximação, mas se torna inábil para contornar as desavenças e quebrar ciclos comportamentais e emocionais. O amor não basta quando não consegue quebrar padrões de resposta aos estímulos que a própria convivência produz. Respeitar e educar a si e ao outro em seus estados emocionais. Faz se necessário o amor que tolera e que maximize a inteligência que gera estratégias, que sabe agir no momento certo e do jeito certo. Compreendendo, auxiliando e gerando uma educação emocional dentro dos relacionamentos. Através do silêncio, das perguntas eficazes e da correção fraterna.

Por uma observação pessoal, através dos meus padrões emocionais e comportamentais e também dos outros que comigo convivem, tenho ensinado que devemos ter cuidado com as nossas respostas imediatas aos estímulos emocionais. E que se o outro deu uma resposta pouco polida, meio e talvez até muito grossa. Espere um segundo momento ou comportamento para agir ou responder. As emoções, como já metaforizei anteriormente, são pequenos vulcões, cuja as erupções não estão sob nosso comando. E nem todas as pessoas tem seu auto controle saudável que consiga dominar essa “lava” para não ser exteriorizada em sua totalidade catastrófica.

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Exercícios e estratégias para melhorar as aptidões emocionais no campo dos relacionamentos.

 

1. Expresse no momento e do jeito certo suas emoções. Não esconda, seja sincero e amigável diga o que realmente está sentindo e busque encontrar um caminho ecológico³ para superar os desajustes de ordem relacional.

     

2. Diante do medo (Ciúmes, insegurança, timidez, embaraço, constrangimento): 

  1. Ria de si mesmo, do que está incomodando, do medo que o deixa inseguro. Quando eu pratico a capacidade de rir de mim mesmo eu reduza a força do que me apavora, me relaxa e melhora meu humor e minhas forças para superação.
  2. Recordar superações de medos anteriores, superação de algum ciúme (entre irmãos, par romântico, p. ex.). Mesmo que pequena, as superações do nosso passado nos fortalecem na superação dos medos atuais e que exercem negativamente influência na qualidade dos nossos relacionamentos.

 

3. Diante da raiva (Críticas, inveja, indignação, etc):

Respire fundo, saia do ambiente, quebre o estado observando ou se concentrando em algo que lhe seja fonte de alegria. Peça um tempo para reorganizar as ideias e baixar a pressão própria da raiva.

 

4. Diante da tristeza (Desgostos, feridas, desespero, etc):

  1. Tome consciência do fator que leva a tristeza, aceite a situação sem negá-la. Aceitar leva a ação reparadora, enquanto que a lamentação leva a inércia e ao coitadismo.  
  2. Entre em sintonia com o que te traz alegria observando e sentido as pequenas dádivas da vida, do seu dia a dia, exercite a gratidão enumerando mentalmente o que tem de bom nos seus relacionamentos.
  3. Cuide da saúde física através de uma boa alimentação, hidratação e atividades físicas.

 

5. Busque viver as alegrias:

  1. Comemore e celebre junto com os que lhe são caros, suas conquistas. Das mais simples as mais expressivas.
  2. Abrace, seja afetuoso. Demonstre carinho e afeto principalmente com os de casa, os mais íntimos.

As emoções são contagiantes. Influenciamos, mesmo sem nosso desejo direto. Enviamos sinais emocionais sempre que interagimos, e esses sinais afetam aqueles com quem estamos. Segundo Goleman (2018), “transmitimos e captamos modos uns dos outros, algo como uma economia subterrânea da psique, em que alguns encontros são tóxicos, outros, revigorantes. Esse intercâmbio emocional se dá, em geral, de forma sutil, quase imperceptível; a maneira como um vendedor nos diz “obrigado” pode fazer-nos sentir ignorados, ressentidos, ou ser de fato um agradecimento e dar mostras de consideração.”

Nesse sentido, mesmo que tenhamos um ranzinza dentro de casa, somos capazes de alterar esse padrão contagiando-o com nossa alegria e otimismo. Mas é preciso cuidado, pois podemos também ser contagiados. A emoção maior sobreporá a menor. A mais contagiante engolirá a de menor expressão.

As emoções não estão sob a nossa vontade. São involuntárias. Não estão sob nosso controle, mas cuidar dos estímulos, do nosso foco e nossa fisiologia (corpo, expressões, respiração, postura) podem influenciá-las e assim utilizarmos de seus efeitos em benefício de nossas relações, sem contar de nossos projetos que necessitam da automotivação.

Mas afinal, até pra melhorarmos nossas relações, precisamos de motivação, e as emoções são ótimas aliadas nisso. Comece partilhando mais abraços, nutrindo e hidratando-se bem e movimentando seu corpo. Um corpo saudável gera mente saudável e a mente saudável gera um copo são. Cuide de você para cuidar bem dos que você ama. Sucesso!

 

Fonte

GOLEMAN ph.D, Daniel. Inteligência Emcional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2018 – 384 p.

CALABREZ, Pedro. O Que São Emoções e Sentimentos? Canal Neurovox. Youtube. 2016. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=SUAQeBKiQk0&t=8s.

 

 

¹Filósofo francês do Séc. XVII

²Pedro Calabrez é neurocientista e professor. Em um canal no Youtube, neurovox, onde ensina conteúdos de neurociência e filosofia.

³Ser ecológico aqui é um termo da Neurolinguística que significa ser bom para todos os envolvidos, para mim e para quem convive comigo.

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